Que papo é esse de folga nos guias de válvulas? Esse motor é novo, rapaz! Bem, não exatamente. Em algum momento dos seus trinta e sete anos, com algum daqueles herdeiros da mesma família – todos mortos – deve ter faltado óleo ou ocorrido alguma outra pane catastrófica. Aposto que foi com o último dono, pois está gravado no bloco, abaixo da numeração: FIAT. É provável que tenha custado pouco, muito menos que o que seria gasto com o conserto, sei do que estou falando. Tirou o motor quebrado, botou um de sucata e seguiu rodando.
Assim, ainda temos um cabeçote de máquina de costura para restaurar. Só falta conseguir os tais guias de válvulas, não deve ter nem na Itália. Mercado Livre, SEDEX e uns trezentos pilas; mais fácil que fazer de zero a cem em dez segundos. Já que o motor está aberto, vamos polir os dutos de admissão e trabalhar os ângulos de válvulas e sedes.
Dois mil e trezentos reais mais pobre – o João tem fixação por este número – lá estou eu na Freeway, acelerando a velharia. Acabou a bateção de válvulas, o cabeçote está silencioso e, como o motor já tinha sido balanceado, não apresenta vibrações significativas. Sobe de giro com volúpia e alcança cento e oitenta quilômetros por hora, deixando um Fusion metidinho a ler minha placa traseira. Fantástico!
Duvido muito dessa velocidade máxima, devia haver um vento de cauda naquela tarde. Descontando o erro do velocímetro, posso considerar cento e setenta um número verossímil, o que já iguala o valor declarado das 2300 Ti, com seus dois carburadores duplos. O melhor, no entanto, é a suavidade e o funcionamento silencioso do motor, parece o de um carro moderno, nem se ouve a marcha lenta. E a tal baixa quilometragem do carro?