Sobre a Alma dos Carros

Quando dizem que os carros têm alma, não é à toa, e talvez nem seja uma comparação com seres humanos, como poderia parecer na primeira impressão. Para mim, são aqueles detalhes que vão impregnando o conjunto de metais e plásticos, dando a história das vidas que passaram pelos seus bancos, assumiram o comando, viajaram e se divertiram, passearam em dias de sol, ficaram protegidos de chuva e frio e, principalmente, dos que tomaram conta e os mantiveram em condições de repetir esses momentos com outras gentes, mesmo depois da morte de quem decidiu comprá-los. Ontem tive uma experiência que revelou um pouco mais da alma do meu carro: conheci a filha da primeira proprietária. A senhora está com cerca de oitenta anos e contou que seu pai dera o carro para sua mãe, por sugestão e escolha de sua irmã que – adivinhem – era apaixonada por automóveis Alfa Romeo. Também lembrou como fui escolhido para ser o novo dono, duma forma muito parecida com a doação de um bicho de estimação, quando se procura um lar que possa dar conforto e segurança para a criatura. Ao nos despedirmos, deu-me um forte abraço e me beijou. Foi comovente.

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