CAPÍTULO FINAL – PLANOS PARA O FUTURO
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O carro é todo justo, novinho. Os estofados estão perfeitos e os cromados internos impecáveis. Dobradiças das portas sem folga, carpete original, serigrafias, tudo parece novo.”Deram-me” o carro por dois mil reais e só fui escolhido porque sabiam que eu cuidaria bem da jóia. Adquirida nova pela bisavó do Gabriel, em algum dia de 1974, na revenda Primorosa em Porto Alegre, foi conservada pelos descendentes até chegar às minhas mãos.
Retribuo a confiança com uma devoção intransigente pela originalidade. Tirando essas coisinhas no motor – segredinho entre nós – não faço nada diferente do que saiu de fábrica. Até o complicado servofreio Girling, exclusivo do modelo 1974, foi restaurado com peças originais, caçadas durante meses na Internet, das quais mantenho estoque para o futuro. O mesmo vale para a tosca bomba de pé do esguicho do pára-brisas: encontrei uma nova absolutamente idêntica à original. As teclas do console também são novas, com os pictogramas bem branquinhos. Mandei trocar as pestanas e canaletas dos vidros, o que me custou metade das férias a correr todas as lojas do ramo na cidade, para achar estoques escondidos e manter o sistema primitivo.
Direção hidráulica nunca terá. Ar-condicionado, só se eu encontrar o original, com o respectivo console e seus instrumentos; tudo muito bem conservado. Quase impossível. Mais que isso, inacessível. Dias atrás, somei todos os recibos de oficina que colecionei até agora e ficou um pouco acima dos vinte e dois mil reais que meu faro indicava. Bateu vinte e sete mil reais. Não fossem as cagadas com o motor, essa conta seria de uns dez mil a menos, mas eu não teria um máquina tão espetacular como a que tenho hoje. Nada mau para uma semivirgem de trinta e sete anos.
FIM
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