CAPÍTULO 1 – A OFERTA


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Fotos: Gabriel Bugs

          Durante o intervalo, Gabriel me perguntou se eu queria comprar um Alfa Romeo. Ele ganhara um Renault Symbol zero quilômetro do avô, a raridade já estava há alguns anos ocupando a segunda vaga na garagem e agora o impedia de receber o carro novo. Lembrou que tinha quinze anos da última vez que seu primo o levou a passear e, depois que ele morreu, o carro só fora movido uma vez, de caminhão, para trocar de estacionamento. Como já havia visto as fotos da restauração do Chevette, e o carrinho ao vivo no estacionamento da faculdade, identificou-me como capaz de preservar aquela máquina que sobrevivera às décadas e era, naquele momento, um ônus excessivo para a família. Minha primeira reação ao ver as fotos foi perguntar se o hodômetro tinha sido rebaixado, pois vinte e um mil e catorze quilômetros era algo irreal para um carro fabricado em mil novecentos e setenta e quatro. Ele ficou surpreso com a pergunta e, meio indignado, respondeu que não.

          Quando fui à garagem conferir, tive certeza que o compraria. Apesar da pintura branca estar meio amarelada, o interior demonstrava seu estado impecável, estava tudo novinho, nem uma costura fora do lugar. Depois de assinarmos o contrato – havia uma cláusula que me proibia de alterá-lo – chamamos um guincho e o deixei na oficina recomendada por um amigo. O inventário estava em andamento e o esperávamos concluído até o fim da restauração. Aprovado o orçamento, eu controlava a ansiedade aprendendo tudo o que podia sobre o carro: digitava Alfa Romeo 2300 no Google e passava a ler seus dados no pouco tempo livre que me restava.

              Visitava a oficina todo sábado pela manhã para acompanhar a obra e saber quais peças deveria caçar na Internet, prática que dominava desde quando decidi ressuscitar o pequeno Chevrolet. O tanque de gasolina sem a bóia, com aquela gosma visível pela abertura, causou-me péssima impressão. Desviei o olhar como alguém que não quer ver um cadáver com a buchada de fora, duvidei que fosse andar novamente e passei a semana deprimido. A situação piorou na inspeção seguinte. Ao chegar, encontrei o mecânico com o semblante carregado, bem diferente daquele sujeito bonachão que sempre me atendia. Um incêndio na oficina destruíra um carro e danificara outros seriamente. Tua Alfa foi atingida, adiantou.

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